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Jaquetinha nível "Fora de Precedentes" |
O problema é que dizem por aí que o termo "motoqueiro" deve ser somente utilizado para aqueles que trabalham com a motocicleta, como no caso dos motoboys. Esse entendimento não está totalmente errado, pois o sufixo "eiro" pode ser utilizado para transformar o nome (motocicleta) em um adjetivo (derivação nominal) para designar uma ocupação, ofício ou profissão. Isso ocorre com várias palavras como barbeiro (barba), porteiro (portaria/portão), padeiro (pão/padaria), etc.
Porém, está equivocado quem considera que este sufixo caracteriza apenas ofício, ocupação ou profissão. Ele também pode ser utilizado, dentre outras coisas, para exprimir a ideia de "noção de coletivo", como no caso de formigueiro (coletivo de formigas) ou arruaceiros (arruaceiro). Desta maneira, dizer que tem um "grupo de motoqueiros" está gramaticalmente correto.
Os que se auto-intitulam "motociclistas" são aqueles que utilizam a motocicleta como meio de transporte, lazer e desporto, ou seja, são os praticantes do motociclismo. Estes, além de subir em suas motocicletas para realizar viagens, passeios ou somente como meio de transporte, costumam promover o motociclismo como atividade prazerosa e cultivam o respeito às regras e legislação.
Muitos motociclistas não gostam de serem chamados de "motoqueiros", chegando até mesmo a se sentirem ofendidos. Mas de onde vem essa confusão?
Os Cachorros Loucos
Ando de moto desde 2006 e, quando comecei a pegar os corredores de moto aqui em São Paulo (Capital), havia pelo menos uns 80% de motoboys e outros tipos de profissionais que faziam trabalhos utilizando motocicletas. Nesta época, muito antes do Uber e muito antes da explosão das redes sociais e câmeras digitais em tudo quanto é lugar, havia uma sensação de impunidade muito grande no trânsito. Se você quebrasse um retrovisor depois de tomar uma fechada, poderia simplesmente ir embora que ficaria tudo bem. Afinal, quem iria te encontrar no meio de milhões de veículos que transitam pela metrópole todos os dias? Quem teria tempo para anotar a placa e quem teria paciência para entrar com um processo?Nesta época havia praticamente uma guerra entre motos, táxis, carros particulares e os ônibus, sem contar as lotações. Eu mesmo já me envolvi em mais de uma discussão no trânsito por conta de fechadas, imprudência e outros motivos, tanto como motociclista quanto como motorista de automóvel. Para agravar a situação não havia nenhum tipo de regulamentação ou preocupação com os motoboys e isso incentivou muito a presença de profissionais com baixa qualificação e muitas vezes com pouquíssima educação.
Acredito que essa rixa venha principalmente desta época e do fato de ser "legal" ser apelidado de "cachorro louco". Costurar o trânsito e fazer uma série de barbeiragens reforçava a ideia de "piloto de fuga" ou de "corajoso". Porém, isso não era exclusividade dos motoboys e havia grande número de motociclistas (maus motociclistas) que mantinham este mesmo comportamento, totalmente imprudente, e eram extremamente agressivos no trânsito.
Outro problema eram os acidentes envolvendo motocicletas e automóveis. Em segundos formava-se um grande tumulto no entorno do veículo. Isso ocorre até hoje, porém, acredito que em menor quantidade e intensidade. Este comportamento era uma forma dos motoboys protegerem uns aos outros. No início eu achava bastante interessante este tipo de comportamento já que muitos motoristas fugiam ou simplesmente não paravam para auxiliar o motociclista depois de uma colisão, porém, estes tumultos passaram a serem utilizados por muitos motociclistas para não arcarem com prejuízos que causaram após uma colisão. O motorista do automóvel sentia-se coagido e acabava pagando o conserto da motocicleta ou simplesmente ficava com o seu prejuízo.
Entendo que aqueles que conduzem respeitosamente sua motocicleta podem sentir que "motoboy" e "motoqueiro" são referências pejorativas e preferem manter distanciamento destes termos, já que fazem uma ligação direta com maus comportamentos no trânsito e outros estereótipos que foram reforçados ao longo do tempo.
Os Jaquetinhas
Na primeira década de 2000 a Harley-Davidson passou a executar seu plano de expansão e distribuição no Brasil. Foram abertas pelo menos uma dezena de concessionárias nas principais cidades do país. Havia sim HDs aqui no Brasil, mas estas foram sempre importadas por pessoas que estavam dispostas a desembolsar uma boa grana para ter uma motocicleta "classica". Após o início da expansão da HD aqui no Brasil, as lojas contavam não só com as motocicletas, mas também com jaquetas, capacetes e acessórios tanto para o piloto quanto para a motocicleta. Estes novos proprietários e entusiastas da famosa marca passaram a andar com suas motocicletas utilizando diversos equipamentos estampando de maneira bastante visível a marca "HD", de botas à capacetes, tornou-se bastante comum ver em nossas ruas esses novos proprietários desfilando com suas máquinas.Hoje temos outras marcas como a BMW, Triumph e a Ducati que possuem concessionárias aqui e que também disponibilizam para seus clientes equipamentos e acessórios com suas marcas estampadas, mas é preciso lembrar que tínhamos acesso bastante restrito à essas motocicletas por aqui, mesmo havendo sempre um público bastante interessado na cultura Custom e acabavam por optar por modelos Amazonas, Triciclos Customizados, Honda Shadow, Suzuki Boulevard, entre outras. A presença destas motocicletas com maior valor agregado causou certo distanciamento entre o público entusiasta clássico e este novo público que tem suas peculiaridades.
O termo "Jaquetinha" começou a ser utilizado como um apelido pejorativo para retratar os proprietários de motocicletas caras e que utilizam vários acessórios com a marca de sua motocicleta estampada. Costumam ter motocicletas e acessórios sempre limpos e brilhantes. Vários motociclistas os criticam por gastar enormes quantias de dinheiro em roupas, acessórios e manutenção, além de lavagens e itens de embelezamento para simplesmente manterem as motocicletas na garagem. Não raro é encontrar motocicletas que custaram mais de 50 mil reais paradas por meses em suas garagens e sendo tiradas apenas para passeios curtos e lavagens.
Por fim...
Minha opinião é que existe grande exagero quando um motociclista é chamado de "motoqueiro". Obviamente depende da forma como este termo é empregado, mas considero que na maior parte dos casos não há uma intenção do emprego pejorativo do termo. O mais importante é sua conduta no transito e com as pessoas de maneira geral. De nada adianta pedir para ser chamado somente de motociclista e simplesmente não dar preferência à uma pessoa atravessando a rua ou forçar a passagem em um corredor sem necessidade.Em relação aos "jaquetinhas" meu sentimento é de tristeza por terem despendido tanto dinheiro em uma motocicleta e simplesmente não desfrutar de uma máquina que pode nos proporcionar tanto prazer. É óbvio que existe uma série de proprietários que rodam bastante com suas máquinas, fazem viagens e realmente desfrutam bastante do que possuem, porém, acredito que haja certo exagero principalmente na aquisição de peças, equipamentos e também nos custos de manutenção. Não faz sentido algum alguém pagar 800... 1.000 reais para fazer uma revisão de 1.000 km em uma Concessionária. De qualquer maneira, hoje você pode encontrar uma bela motocicleta com 10 anos de uso e com pouquíssimos quilômetros rodados. Sorte nossa! :)
As marcas de motocicletas deveriam perceber isso e reduzirem suas marcas e identidade visual em alguns modelos de roupas e acessórios, pois isso inibe parte do público a adquiri-los. Eu mesmo já deixei de comprar uma jaqueta de couro, que era bastante bonita e resistente, por ter a logomarca e cores da marca de maneira exagerada.
Bom, espero que pelo menos tenha trazido uma reflexão e que tenha contribuído de maneira positiva para difundir ainda mais a cultura do motociclismo.
Grande abraço!